"Diz sempre o que te vai na 'alma', por alguma razão tens uma..."

terça-feira, 10 de abril de 2012

Capitulo VII



-Menina, Chloe. – Ouvi um chamamento. Tinha a certeza. Chamavam-me…mas o som estava tão distante… A única coisa de que me conseguia lembrar era de sair do autocarro com um sorriso radiante, mas falso…Se ele pensava que eu ia deprimir pelos cantos por causa do anormal que ele era… Estava muito enganado! Depois, tinha uma vaga ideia de ter corrido pelos corredores sem vida da escola, mesmo a tempo de chegar à sala onde ia ter filosofia. Tinha batido à porta (pois já estava atrasada), sorrido ao professor Bloom e ido diretamente para o meu lugar sem levantar o olhar, para ver quem me rodeava. Os acontecimentos posteriores a esta parte da minha vida, eram um grande borrão... Não me interpretem mal, eu sabia que estava na sala, mas quanto ao facto de estar a prestar atenção e a perceber o que se estava a passar, já era elevar as coisas a outro patamar diferente…. 


-Menina, Chloe! – Gritou o professor Bloom. De repente, fui puxada dos meus pensamentos e voltei a atingir a realidade e a focar-me na cara zangada e de poucos amigos do meu professor de filosofia. Também me apercebi que me tinha feito uma pergunta e que a minha resposta ainda estava a milhas de ser dada… 


-Humm…Desculpe, stôr… Não ouvi, pode repetir? – Disse eu com a minha melhor cara de anjo para acalmar os ânimos do meu querido professor. Infelizmente, o meu plano para não o irritar não estava a correr exatamente como o planeado… 


-Repetir? Se posso repetir? Claro…com certeza… tudo para a menina ficar bem! – Fogo! Ele estava mesmo passado! Não era preciso exagerar! Eu só estava distraída… 


-Desculpe, a sério. – Disse eu cabisbaixa. Será que aquilo podia piorar? 


-Pronto, ok. Desta vez passa, mas se volta a ficar ‘distraída’ na minha aula, garanto-lhe que vai ter problemas! – Boa! Era só o que mais me faltava… tinha conseguido irritar um professor em 5 segundos, mas que máximo! – Como eu estava a dizer… - Continuou com a sua aula, fez-me a tal pergunta e eu lá consegui balbuciar-lhe uma resposta duvidosa que ele aceitou, prosseguindo com a aula. Eu? Bem, eu não queria irritá-lo, por isso tentei com muito esforço prestar atenção… Quando soou o toque, agradeci aos anjos por não ter tido mais problemas no que tocava à minha aula de filosofia. 


Quando sai encontrei a Daisy, que me deu um sermão de como eu era irresponsável e de como não tinha noção do tempo…Não lhe contei o que aconteceu no dia anterior. Não conseguia. Eu só queria esquecer. Por isso, pus o meu melhor sorriso e aceitei as palavras dela, dizendo-lhe que tinha razão e que eu ia tentar mudar…Quanto ao Jeffrey, não o vi durante o resto do dia e fiquei satisfeita com isso. Não sabia se não iria a baixo quando o visse, por isso, rezei para que, pelo menos naquele dia eu não tivesse encontros indesejados, ou discussões intermináveis, ou qualquer coisa que eu não conseguisse aguentar…Eu só queria paz. Seria pedir muito? 


*** 


Entrei no autocarro e muito rapidamente fui para um dos lugares sem incomodar ninguém (eu odiava estar no meio de uma multidão desconhecida, especialmente se estivesse sozinha). 


Sentei-me num lugar ao pé da janela e olhei para o exterior. Era estranho… Só se viam prédios e pessoas, que aparentemente não tinham qualquer objectivo de vida, a vaguear. Mas que raio tinha acontecido à natureza? Onde é que estavam as flores e os pássaros? Onde é que estava o verde das árvores e o azul dos rios? Onde é que estava aquele cheiro de relva acabada de regar? Eu odiava viver numa cidade… queria desesperadamente ir para o campo, onde não haviam carros barulhentos, pessoas maldispostas, nem o meu querido e extremamente irritante, idiota, parvo, imbecil, colega Jeffrey. Ainda não me tinha esquecido da brincadeirazinha dele. Só esperava que ele tivesse decidido que hoje seria um bom dia para ir dar uma longa caminhada até casa…O que mais me irrita nele? Bem aqui vai: toda a gente o adora. Pronto, eu até percebo porquê, quer dizer ele é giro, simpático, talentoso, inteligente…mas por alguma razão que me é desconhecida ele gosta de embirrar comigo e é assim desde que nos conhecemos, no 5º ano. E eu, como é óbvio, também embirro com ele. Mas é compreensível, certo? Quer dizer se ele gosta de me irritar eu tenho o direito de o fazer o mesmo a ele, não é? Pronto, eu sei que isto parece um bocado infantil, mas quando se trata do Jeffrey parece que eu não consigo ser racional nem responsável. Quando se trata dele eu sou infantil e muito, muito irritante. 


Estava eu muito sossegada e sem chatear ninguém, a pensar em como a minha vida era uma seca, quando o Jeffrey teve a brilhante ideia de se vir sentar ao pé de mim (obviamente para me chatear). Lá se ia a caminhada… 


- O que é que queres? – perguntei-lhe, pois parecia que ele não tinha qualquer intenção de abrir a boca e muito menos de se levantar… 


Ele olhou para mim com um sorriso enorme nos lábios (como é que ele conseguia fingir que estava tudo bem?), o mesmo sorriso que fazia sempre que me conseguia irritar. Por isso, decidi que desta vez ele não ia ter esse prazer, desta vez ele não me ia conseguir irritar, desta vez eu ia-me portar como uma mulher. Se eu não ligasse, ele ia perceber que não tinha qualquer efeito em mim e que a tarde de ontem não era mais do que uma lembrança muito desvanecida na minha cabeça. 


- Oh…Olá Chloe, nem te vi aí. – Disse ele e fez um ar de santinho. 


Semicerrei os olhos e ele abriu ainda mais o sorriso. 


- Então, devido à tua excelente participação na aula de mitologia de ontem, o Sr. Andreson partiu do princípio que não te estavas a entender bem com a matéria e por isso, claro que tinha de sobrar para mim, ele quer que eu te dê explicações. – Fez uma expressão que nada tinha de satisfação ao dizer-me isto. Eu não podia acreditar! A sério? O Jeffrey a dar-me explicações? É que nem por cima do meu cadáver! Isso nunca iria acontecer. Especialmente porque ele é muito melhor que eu nessa disciplina, é claro que eu nunca o vou admitir, mas só de pensar no prazer que o Jeffrey sentiria ao dar-me explicações, no modo como ele se ia exibir e mostrar claramente que era muito, mas muito melhor que eu, punha-me doente. Além disso, não me apetecia propriamente passar tempo na sua companhia. Quer dizer, ele tinha sido um idiota, como é que ele esperava que eu reagia-se? Bem? Ele devia pensar que eu não tinha sentimentos… Pará, ordenei a mim própria. Eu não podia continuar a pensar naquilo! 


- Obrigada pela preocupação, mas passo. Não me apetece nada passar as minhas tardes na tua companhia. – Disse a sorrir para ele e desejosa que se fosse embora. 


- Pois, eu também não queria nada passar o meu tempo a tentar ensinar essa tua cabeça que parece não ter cérebro, porque eu tenho a certeza absoluta que tu nunca conseguirias acompanhar o meu ritmo. 


- Desculpa??? Tu nasceste parvo ou gostas simplesmente de o ser? 


- Olha, também não gosto lá muita da ideia, mas não temos escolha, o Sr. Andreson não nos vai deixar em paz se eu não te der explicações por isso é melhor aceitarmos já. – Revirei os olhos, mas quando olhei para ele vi que estava a falar a sério. Suspirei. 


- Pronto, está bem. Depois falamos melhor sobre isso, mas agora podes tirar o teu traseiro do banco ao lado do meu, para eu poder ir descansada o resto do caminho para casa e fingir que tu não estás no mesmo autocarro que eu? – Completamente satisfeita comigo mesma por lhe ter dado uma resposta que o fez olhar para mim, claramente aborrecido, fiz o meu melhor sorriso. 


- Não, eu não vou sair daqui. E agora? O que é que vais fazer? Oh, deixa-me adivinhar… vais fazer queixinhas à tua mãe? – Ele arrependeu-se mal proferiu estas palavras. Toda a gente sabia que a minha mãe tinha morrido no ano passado. Ela saiu numa noite e disse-me que ia visitar uma amiga ao hospital, eu fiquei em casa com o meu pai. Na manhã seguinte percebi que ela não tinha dormido em casa e pensei que tinha ficado no hospital com a tal amiga, mas o meu pai disse-me que ela tinha tido um acidente, e que o carro tinha caído num rio…Desde aí tenho vivido com o meu pai, o que não é nada fácil, pois tenho imensas saudades da minha mãe e ainda me custa imenso falar sobre ela. 


- Tu és tão estúpido. Mas que mal é que eu te fiz? – Perguntei-lhe já com lágrimas nos olhos. 


- Pare o autocarro. – Pedi eu ao motorista. O autocarro parou e eu sai. Eu sei que não foi nada racional sair do autocarro no meio do nada, mas eu não conseguia ficar mais ao pé dele, especialmente porque estava preste a chorar e eu não lhe ia dar o prazer de me ver assim. Comecei a andar, a minha intenção era ir para casa, mas parei assim que o autocarro avançou e me passou à frente, completamente ciente de que estava sozinha, aparentemente sem qualquer civilização à vista e, para agravar ainda mais a situação, já estava a escurecer. Mas que raio é que eu ia fazer? A minha primeira ideia foi ligar à Daisy para ela me vir buscar, mas logo me lembrei que o carro dela estava avariado. Estava completamente desesperada, quando ouvi uma voz. 


-Olha, Chloe…eu peço imensas desculpas…eu não tinha intensão de te magoar…fui completamente estúpido. Lamento imenso. 


Levantei o sobrolho. Jeffrey? Não, não podia ser. Quer dizer eu tinha a certeza que a voz era a do Jeffrey, mas o que ele estava a dizer não condizia nada com ele. A sério? Ele estava mesmo a pedir desculpas e a dizer que foi um estúpido? Depois disto, tudo era possível. Só depois é que me apercebi que ele devia estar no autocarro…Se calhar tinha saído, enquanto eu estava demasiado ocupada a stressar, pois….era possível… 


Eu estava de costas para ele com a cara completamente inundada de lágrimas, por isso não tinha qualquer intenção de me virar e encara-lo. 


Ele pôs-me a mão no ombro, aquilo chocou-me tanto que me afastei logo. Ele nunca tinha sido assim comigo, nunca tinha sido querido nem compreensível. Com cuidado, ele contornou-me e pôs-se à minha frente. Quando viu que eu estava a chorar, não fez nada daquilo que eu estava à espera que fizesse, não começou a gozar comigo, nem a mandar bocas, em vez disso agarrou-me nas mãos e olhou para mim com uns olhos cheios de arrependimento. 


- Desculpa, ok? Por favor, não chores. – Pediu ele, parecia realmente perturbado. Eu nunca iria perceber os rapazes. Porque é que eles ficavam sempre assim quando as raparigas choravam? 


Afastei rapidamente as minhas mãos das dele e limpei a cara. Ele ficou claramente envergonhado, levou a mão ao pescoço e começou a corar. Sim, eu juro! Ele começou a corar! 


O Jeffrey tossicou para aliviar a tensão que se começava a acumular. 


- Bem…eu pensei que devia acompanhar-te a casa, como prova do meu arrependimento. Além disso já está a escurecer e tu não devias andar por ai sozinha. 


Olhei para ele a tentar assimilar o que ele estava a dizer. Achei aquilo, mesmo muito estranho, mas nem pensei duas vezes. Sim, eu sei que o que ele tinha feito ontem não era propriamente favorável para que eu ficasse outra vez sozinha com ele, mas eu não queria ficar sozinha no meio do nada (tenho de admitir que sou um bocado medrosa) e sem saber porquê a simples ideia de estar acompanhada pelo Jeffrey fez-me sentir completamente segura, apesar de tudo… 


- Está bem…também não me apetece nada ir para casa sozinha e pensar na porcaria que a minha vida é, por isso acho que me podes acompanhar. 


- Ainda bem. – Disse ele completamente satisfeito consigo mesmo. – Mas é bom que saibas que amanhã eu volto a odiar-te. – Sorrio ao dizer isto e eu em vez de levar a mal só respondi: 


- Se não o fizesses eu matava-te. – Desatámos nos a rir e começámos a andar. De repente, senti um alívio enorme. Era tão bom não estar sozinha. Eu estava completamente consciente que era o Jeffrey que estava comigo e que no dia seguinte tudo voltaria ao normal, mas naquele momento ele não era o Jeffrey chato e extremamente irritante do costume, naquele momento ele era o Jeffrey um rapaz muito simpático que me estava a levar a casa. Fomos a falar o resto do caminho e quando cheguei a casa não conseguia parar de pensar que adorava este Jeffrey e que se ele fosse sempre assim talvez nos pudéssemos dar bem. 


Mas ele não é assim, por isso pára de pensar nisso. Nós odiamos nos e isso nunca vai mudar, pensei. O meu pensamento tinha razão, nós nunca nos iríamos entender. A minha última precessão antes de cair num sono profundo foi que sem saber porquê eu estava muito triste com este facto. 










sexta-feira, 23 de março de 2012

Capitulo VI



“Trim, Trim…” Comecei a ouvir este barulho extremamente irritante…mas porquê? Porque é que me tinham de arrastar do meu mundo de sonhos completamente em paz e tranquilidade, para a realidade fria e dolorosa? 

Abri os olhos sonolentos e comecei a apalpar desalmadamente a minha mesa-de-cabeceira numa busca desenfreada da origem daquele som horrível, por outras palavras: o meu telemóvel. Mas quem é que seria? Ainda era muito cedo… Quem é que teria a lata de me acordar? 

Sem mais demoras premi o botão de atender e ouvi uma voz bastante irritada, com uma picada de preocupação: 

-Mas onde raio é que tu te metes-te? – Perguntou uma Daisy muito estridente do outro lado da linha. Eu devia ter adivinhado…mas quem mais é que teria o desplante de me acordar? – Tu sabes que horas são? 

-Oh, sei lá… se calhar CEDO DE MAIS para me acordares aos berros!!! – Eu odiava ser assim, mas quando alguém me acordava, eu era impossível. Olhei para o relógio que tinha na mesa-de-cabeceira. De repente, senti os olhos a esbugalharem-se. O primeiro número não podia ser um onze, podia? 

-Peço imensa desculpa se interrompi o sonho de beleza da menina, mas caso não tenhas reparado é quase meio-dia e tu já perdeste duas aulas! Mas onde é que tu tens a cabeça? Eu pensava que te tinham raptado e que ia acabar na esquadra a prestar declarações e a tentar lembrar-me de todos os teus inimigos! Chloe, tu nunca chegaste tarde, mas o que é que se anda a passar nessa cabecinha? 

-Eu vou agora para a escola, falamos quando eu chegar. Até já! – Disse eu apressada, só me queria era despachar. 

-Oh não! Nem penses que te livras… - Desliguei antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, eu tinha de me apressar e o facto de a ter do outro lado da linha a fazer-me um interrogatório sem fim não me estava a ajudar em nada. 

Eu ainda não acreditava! Mas como é que eu tinha adormecido? Isto nunca me tinha acontecido… Aquele Jeffrey faz me mesmo mal…Não. Recuso-me a pensar nele. Eu tinha de ir rápido para a escola, antes que perdesse mais aulas. 

Cinco minutos depois, uma Chloe com o cabelo atado e sem maquilhagem, estava a sair de casa e a dirigir-se para a paragem. O autocarro só devia chegar daqui a cinco minutos, por isso, parei por um bocado e comecei a pensar no que tinha acontecido. Eu tinha adormecido! Isso era um facto, mas porquê? Eu nunca adormecia! Ok, eu ontem tinha tido um final de dia difícil, mas isso não queria dizer que podia dormir até tarde. E para além disso, eu não posso deixar que aquele idiota me afete tanto. Eu não posso simplesmente deixar que uma coisa destas me aconteça, só porque me partiram o coração. Não. Isto tem de mudar. Ele não vai controlar a minha vida...eu sou uma mulher forte e independente! 

Estava a pensar em como ia dar cabo daquele tipo, quando o autocarro chegou. Entrei e dirigi-me para a parte de trás. Eu odiava-o. Tanto. Mas porque é que eu tinha ido com ele? Porque é que eu não ouvi a parte racional do meu cérebro e fui para casa? Porque é que eu fui estupida ao ponto de pensar que nós íamos alguma vez dar-nos bem? Bem, agora não podia fazer nada para alterar o que se tinha passado. A única coisa que podia fazer era aprender com os erros, e nunca mais voltar a repeti-los. Afinal, é para isso que os erros servem, certo? Para aprender-mos com eles e ficarmos mais fortes. Como a meu pai costuma dizer: “ O que não nos mata, torna-nos mais fortes”. E era isso mesmo que eu ia fazer. Aprender. Seguir em frente. Ficar mais forte. E tentar não cometer o mesmo erro de confiar naqueles olhos verdes. Ele nunca mais me ia fazer chorar. Nunca… 





terça-feira, 20 de março de 2012

Capitulo V


Eu continuava encantada com aquela paisagem maravilhosa…quer dizer... como é que alguém poderia não gostar daquele cenário? Aquilo preenchia-me a alma, fazia com que todos os pedaços soltos, frios e sombrios do meu passado, desaparecessem, como por magia. Aquilo fazia-me, verdadeiramente, acreditar em Deus. Afinal, quem é que poderia fazer tamanha beleza, num sítio em que todos os outros consideravam sombrio e frio? Aí percebi o verdadeiro significado daquilo que o professor de mitologia, estava sempre a dizer… “A verdadeira beleza não está na superfície e na primeira impressão, mas sim nas profundezas mais escuras do ser, depois de conhecido e estudado”, disse ele. Agora sim, eu percebia… quer dizer, eu nunca pensaria em entrar ali, se Jeffrey não me tivesse obrigado, para mim a floresta era só um lugar frio e cheio de bichos nojentos…mas se nós em vez de julgar, primeiro conhecêssemos, explorasse-mos e descobríssemos a verdadeira alma… Se calhar, tudo seria diferente… Quem é que iria pensar que uma das 7 maravilhas do mundo, estava mesmo ali, debaixo dos nossos narizes, e nós devido ao nosso preconceito e julgamento, deixámos que aquela paisagem permanece-se na ignorância. 

Estava eu, a pensar com os meus botões, quando Jeffrey decidiu começar a tagarelar… 

-Não é incrível? Já pensaste em todos as outras coisas de tirar a respiração, mesmo ao nosso lado, que permanecem escondidas, por causa da nossa estupidez? 

Olhei para ele, a tentar descodificar, através do seu olhar, se ele me tinha simplesmente lido os pensamentos ou se por acaso eu tinha estado a falar em voz alta, durante todo aquele raciocínio… 

Mas nos olhos dele, eu só detectei um brilho de maravilhamento e entusiasmo… os olhos dele…tão verdes… a Daisy tinha razão, aquele gajo era um pão. Eu já o sabia só não o queria admitir, porque supostamente nós os dois nutríamos um sentimento de ódio um pelo outro que era mútuo...

-Ora, ora… eu compreendo-te… eu sou muito mais interessante que a paisagem… - disse ele, provavelmente por que me apanhou a contempla-lo e a babar-me. Deusa, que vergonha!!! 

-Não faço a mais pálida ideia do que estás a falar, mas também, eu nunca percebo o que tu dizes, por isso… Mas diga-me lá, senhor doutor, como é que encontrou este lugar? 

- Digamos que eu adoro lugares como este, não te fascina? O desconhecido, a aventura, a adrenalina de nunca sabermos o que nos espera? Eu adoro explorar o desconhecido, de alguma maneira, faz-me sentir independente, sem regras, sem prisões, completamente livre! Quando venho para aqui sinto que tudo é possível. Não há nada que te faça sentir a assim? 

Por momentos, fiquei indecisa se haveria de responder ou não. Ele se calhar estava só a brincar comigo, à espera que eu caísse, para que ele depois pudesse gozar comigo e a nossa relação voltasse à típica discussão de sempre. 

-Sim…- respondi a medo, eu queria testá-lo, ver a reacção dele, perceber se ele estava simplesmente a gozar comigo, mas os olhos dele só mostravam um interesse enorme nas minhas palavras e decidi continuar. -A água…quando estou na água sinto que nada me pode parar, é como se a sua pureza limpasse todas as coisas desnecessárias e horríveis na minha vida. Não sei, só sei que ela me tranquiliza e faz-me pensar com clareza. Eu sei, é estúpido… 

Baixei a cara, a pensar porque raio é que disse aquilo, sou tão parva…agora ele pensava que para além de esquisita eu também era maluca. Tentei mentalizar-me que não me importava nada com o que ele pensava, mas era mentira. Eu importava-me. Importava-me e muito. 

Ele pegou-me no queixo e olhou-me nos olhos. 

-Não, não é estúpido. Na verdade eu compreendo muito bem o que tu sentes. Acredita, é normal tu sentires-te assim. 

-Assim como? – perguntei. 

-Assim… nervosa…quando estás ao pé de mim.- ele estava a andar na minha direcção e eu só conseguia dar passos inseguros para trás. Eu realmente não percebia, não estávamos a falar da água? Mas por alminha de quem é que ele mudou de assunto? – Oh, vá lá, princesa. Admite, eu deixo-te nervosa. 

- E o que é que te leva a pensar assim? – subitamente as minhas contas embateram contra uma árvore e fiquei encurralada. Ele mostrou-me aquele seu sorriso maroto, ao ver que eu não podia continuar a fugir.

-Assim… Quando eu faço isto…- colocou as mãos na minha cintura e começou a subir. – Quando estou tão próximo que as nossas respirações quase que se misturam…- Pôs as mãos no meu pescoço e com os polegares começou a acarinhar-me a face. OH, DEUSA! Ele estava tão perto! Durante o seu discurso ele nunca parou de olhar para mim, aqueles olhos hipnotizavam-me. Eu queria tocar-lhe, queria que ele me beijasse, queria ganhar coragem e dizer-lhe o que sentia quando ele se aproximava assim. Mas não conseguia… 

De repente, ele aproximou a cara dos meus lábios e quando eu pensava que ia beijar aqueles lábios carnudos, ele desviou ligeiramente a cara e avançou para o meu pescoço. Começou a dar-me beijos leves e suaves no pescoço, as suas mãos voltaram à minha cintura. Eu estava no paraíso… sentia os seus lábios contra a minha pele, os nossos corpos tocavam-se ligeiramente, as mãos deles tocavam na minha pele nua… Espera aí… Pele nua? Subitamente percebi que ele tinha posto as mãos por dentro da minha camisola e continuava a subir. 

Afastei-me rápido dele, tão rápido que ele cambaleou para trás e por segundos ficou desorientado. 

-O que é que tu estás a fazer?! – perguntei indignada. Como é que eu não tinha percebido? Era óbvio, qual era o seu objectivo em levar-me para um lugar sem ninguém a quem socorrer num raio de 15km. – Eu devia ter percebido! Porque é que tu tens de estragar sempre tudo? Não te basta a minha companhia? Mas afinal, o que é que tu queres de mim? 

-O quê?! O que é que queres dizer? – Ele parecia desorientado, de repente arregalou os olhos e pareceu chocado. – Não…espera, não é nada do que tu estás a pensar! Eu só… 

-Tu só o quê? As outras raparigas da escola não estavam disponíveis hoje e eu era a única para te divertires? – Comecei a sentir os olhos a arderem. Oh não, isto era sinal de lágrimas. Eu recusava-me a chorar ao pé dele! Por isso, virei-me e comecei a correr. 

-Chloe! Chloe espera, por favor! Não era essa a minha intensão! – Ele gritava atrás de mim, mas eu não parei, eu só queria ir para casa. A minha visão estava turva por causa das lágrimas e tropecei uma e outra vez, mas não me importava, a única coisa que eu sabia é que tinha de sair dali. 

Uma Chloe muito ofegante, despenteada e com a maquilhagem toda esborratada, chegou a casa passados 5 minutos de correr sem parar. Pareceram-me os 5 minutos mais longos da minha vida. Eu corria, corria e nunca mais via a minha grande, amarela e acolhedora casa. 

Fui direita para o meu quarto. Eu só queria paz e sossego. Atirei-me para a cama e chorei contra a almofada. Chorei o que me pareceram horas e quando o meu pai me chamou para a mesa não fui. Já tinha ouvido falar muitas vezes na expressão “coração partido”, mas nunca a tinha percebido. Aos meus olhos, o coração não se podia partir e ter um desgosto de amor não podia doer assim tanto, não é? Oh, mas doía. Doía e muito. Era a dor mais aguda e desesperante de todas. Por momentos, pensei que não ia aguentar. Mas depois, o cansaço venceu a dor e adormeci.

Capitulo IV



O resto das aulas foram o mesmo tédio de sempre...entre tentar escapar às perguntas dos professores, evitar os olhares nada simpáticos de Jeffrey e trocar papelinhos com Daisy, não fiz mais nada produtivo o resto do dia.

Estava a preparar-me para me sentar na paragem, para, mais uma vez esperar pelo autocarro, quando senti o telemóvel a vibrar dentro do bolso. 

-Estou, mano? 

-Oi, olha, preciso que me faças um graaaaaaaaande favor! 

-Oh não puto, nem penses que vou encobrir outra das tuas saídas nocturnas! Da última vez ia correndo mal! 

-Pois, mas não correu! Além disso não é nada disso que eu quero… Sabes, é que… 

-Desembucha! 

-Ok! Eu preciso de ficar na escola mais uma hora… será que podias dizer aos pais que eu tive…hum…sei lá, aula de substituição? 

-Quem é ela? 

-Porque é que tem de ser uma ela? 

-Porque eu te conheço! 

-Pronto...está bem, é isso. Agora, ajudas-me ou não? 

-Matemática, um bloco, a professora avisou na segunda aula da manhã, pode ser? 

-É isso maninha! 

-Estás a dever-me mais uma…aliás, amanhã quero ver quem ela é, e assim pagas a tua dívida, ok? 

-Está prometido, obrigado obrigado obrigado! 

-Pronto, está em, está bem, com tanto amor ainda choro! 

-Pois, tu lá no fundo até gostas! Até logo, mana! 

-Até logo! Juizinho, ‘tá? 

Nessa altura ele já tinha desligado o telemóvel. Estava curiosa de saber quem era a sortuda. Afinal o meu irmão até era giro, tinha o cabelo muito preto, como toda a minha família. A pele dele era cor de pêssego como a minha e a da minha mãe, e os nossos olhos, tanto os dele como os meus, eram verdes, nisso tínhamos saído ao meu pai. 

Desde pequenos que nos diziam que éramos muito parecidos, mas nós achávamos que não, porque na verdade até nos dávamos bastante mal. Há um ano, quando ele foi para o sétimo e eu para o décimo, numa escola desconhecida, começámos a dar-nos bem. Precisámos um do outro para sobreviver em território desconhecido, onde só nos tínhamos um ao outro! 

Depois eu conheci a Daisy e ele lá arranjou os amigos dele. Mas desde aí que somos quase inseparáveis. 

O autocarro chegou, e todos nos levantámos na paragem. Era já quase por instinto. Tanta monotonia fazia-me mal, tinha mesmo de arranjar um carro! 

Como de habitual o autocarro estava a abarrotar com tanta gente, e o único lugar vago era ao lado de um rapaz…com cabelo loiro…atitude descontraída… 

Jeffrey! 

Ainda ponderei ficar de pé, mas estava quase morta por causa de educação física, e não ia dez minutos de autocarro em pé por causa dele! 

Não tive outro remédio se não sentar-me. 

Tentei parecer descontraída, para ele ver que não me incomodava, mas o resultado foi uma Chloe desajeitada quase a sentar-se onde não devia e um Jeffrey a disfarçar um sorriso, sem muito sucesso. 

-Calma, não é preciso ficares nervosa! – Ele esboçou um sorriso muito maroto, e encostou a cabeça ao vidro. 

-Eu não estou nervosa! – Aquele rapaz tirava-me do sério! 

-Nota-se! – Nesse momento ele olhou para a minha mão, que tremia. 

-Sabes muito bem que é do frio! Sabes que tenho sempre as mãos frias! 

-Aí sei? – Ele estava a provocar-me! Num movimento rápido, pegou nas minhas mãos, para ver se eu estava a mentir quanto ao facto de estarem frias. – Por acaso estão! 

-Não me interessa se tu sabes ou não, ‘tá? – Aprecei-me a tirar as mãos das dele. - Aliás, a tua opinião não me interessa para nada. A única coisa que eu quero de ti é distância! 

-Será só mesmo isso que tu queres de mim? – Ele inclinou-se para mim e aproximou a sua cara demasiado da minha. Estávamos tão perto que conseguia ouvir a sua respiração. 

Comecei literalmente a entrar em pânico, e quando ouvi o gravador do autocarro a anunciar a próxima paragem, saí disparada, sem verificar se me faltava alguma coisa. 

Só quando já estava fora do autocarro e senti os ossos a gelarem-me é que me apercebi que me tinha esquecido do casaco. E que tinha saído na paragem errada! Realmente aquele Jeffrey dava-me a volta à cabeça! 

Agora era só andar uns vinte minutos a pé, num frio de rachar, com uma pequenina esperança de sobreviver sem ser assaltada ou assim, porque com o nevoeiro, não se via um palmo à frente do nariz! 

Comecei a andar, muito contrariada...mas que remédio é que eu tinha? Era o que eu merecia por não me conseguir controlar ao pé daquele chato! Ouvi passos atrás de mim... Será que estava a ser seguida? Estava literalmente aterrorizada! 

De repente senti uma mão a poisar no meu ombro. 

Virei-me e dei uma joelhada em quem quer que fosse, depois desatei numa correria louca, até que a pessoa me agarrou pela cintura. 

Estava no meio do nevoeiro, a quinze minutos de casa, com um terror cego a atrapalhar-me o raciocínio. 

Escorregámos e quem quer que me tivesse segurado caio em cima de mim. Comecei aos murros e pontapés, até que consegui ficar por cima do desconhecido! 

Depois ouvi uma gargalhada familiar. 

Agora que já tinha o controlo da situação, já que estava literalmente sentada em cima do agressor, comecei a raciocinar bem. 

Olhei para ele. Ele. 

-Jeffrey! Queres matar-me? 

Ele explodiu numas gargalhadas loucas, enquanto se contorcia de dores. Depois conseguiu recuperar o fôlego. 

-Para uma rapariga, dás luta! Já agora, esqueceste-te do teu casaco. 

-Deusa! Tu és doido? E avisares, não? Ah, e obrigada. – Agarrei no casaco. 

-Não vás, fofa. Podes ficar aí mais um bocadinho! Agora que isto estava interessante! – Ele ainda se estava a rir, o que me deixou furiosa, e provavelmente corada também. 

-Interessante? Só se for para ti, porque eu não estou a ver o interesse! 

-Queres mesmo que eu te explique? – Depois olhou para nós. 

Ele estava deitado de costas, meio levantado, apoiado nos cotovelos. Eu estava sentada em cima da cintura dele, com uma perna de cada lado do seu corpo, e meio ofegante, e provavelmente ‘não apresentável’. 

Ele deve ter visto a minha cara de quem não queria estar ali, e começou a rir novamente, mas agora de forma mais calma, até que se sentou ele também, de modo a que as nossas caras ficassem a menos de um palmo de distância. 

-Já percebes-te o interesse da questão? 

-Pois, temos conceitos diferentes do que é interessante. – Preparava-me para sair de cima dele quando ele me agarrou pela cintura, impedindo-me de sair do seu colo. 

-Tens horas certas para chegar a casa? 

-E se tiver? 

-Se tiveres, a menina perfeita que não faz nada de mal, vai infringir as regras! 

-Ok, e vou infringir as regras porquê? 

-Porque te quero mostrar uma coisa… Alinhas? – Ele estava com um sorriso maroto e de sobrolho levantado. Dali não podia vir coisa boa. 

-Não pode demorar muito tempo, prometi uma coisa ao meu irmão, tenho de o safar. 

-Ok chefinha, só lhe roubo dez minutos! – Piscou-me rapidamente o olho, depois olhou para mim durante um tempo que me pareceu infinito, e logo de seguida levantou-se bruscamente, e estendeu-me a mão para que me levantasse também. 

Continuou a agarrar na minha mão, enquanto me puxava para o meio da floresta que havia na margem esquerda da estrada. 

-Estás doido certo? 

-Relaxa princesa, eu sei o que faço! 

Depois de saltar-mos uns troncos, escalar-mos umas rochas e afastar-mos umas folhas chegámos a um ribeiro. 

-Uou! – Eu estava encantada. Ok, ele tinha conseguido surpreender-me! 

-Gostas? – Os olhos dele eram de espanto e felicidade. Aposto que ele gostava tanto daquilo como eu tinha gostado. Além disso também parecia feliz por concordar-mos nalguma coisa. 

-Não. – Ele ficou chocado. – Adoro! 

-Que susto rapariga! – Disse estas palavras acompanhadas por um sorriso simpático, o que era estranho, visto que estávamos a falar do Jeffrey. 

Tudo ali era lindo. As árvores só deixavam chegar alguma luminosidade, o que dava um ar sinistro à floresta, que apesar de não ser muito densa, e continuar a conseguir-se ouvir os carros a passar na estrada, era mágica. E o facto de ter sido o Jeffrey a mostrar-ma, tornava-a especial. Era como se este seu comportamento simpático significasse tréguas. Finalmente podíamos começar a dar-nos bem... sinceramente, já estava um bocado farta de andar sempre a embirrar com ele...




segunda-feira, 19 de março de 2012

Capitulo III



Estava a retirar o meu almoço super nutritivo do meu cacifo, quando Daisy apareceu por de trás de mim. Quer dizer... eu achava que era ela, porque na verdade ainda não a tinha visto propriamente...Mas como eu tenho um sexto sentido para detectar a minha melhor amiga mesmo antes de a ver, tinha 99% de certeza que era ela... Voltei-me para constatar que tinha razão.

-Credo! Tu sabes sempre quando eu estou a chegar. - Não consegui perceber se era uma pergunta mas respondi-lhe. 

-Sim, já te tinha dito, tenho um olfacto muito apurado e esse teu cheiro a água de colónia Johnson's & Johnson's e gloss de cereja/morango não enganam ninguém. 

-Credo! Consegues cheirar o meu gloss? Tu nao derivas dos macacos rapariga, derivas dos cães! 

-Vou considerar isso um elogio! - Não pude deixar de me rir. Apesar de tímida, era a melhor amiga que alguém poderia ter. 

Daisy falava de coisas sem grande importância enquanto eu reparava bem nela pela primeira vez nesse dia. O seu cabelo cor de ouro estava ainda mais encaracolado e brilhante do que nos outros dias. Caia-lhe sobre as costas em canudos perfeitos, em completo contraste com a sua blusa azul-turquesa. Os olhos condiziam com a blusa e tinha rímel e lápis preto a contorná-los, de modo a que parecessem mais azuís do que o habitual. Tinha uma sombra muito levezinha da cor do cabelo. Os seus lábios estavam ainda mais perfeitos que o habitual, mas desta vez estavam delineados com lápis da cor do gloss, o que os fazia parecer ainda mais volumosos. 

A blusa realçava-lhe o peito, e as suas curvas, apesar de ser muito simples e discreta. Tinha vestidas umas calças de ganga simples e justas e uns ténis-bota brancos que eu adorava! 

-Pausa para eu falar! 

Ela olhou para mim com os olhos muito abertos de espanto e incompreensão. 

-Ok... 

-Chiba-te lá... Com quem é que vais sair? 

Ela não era lá grande coisa a representar. Tinha-a apanhado! E ela sabia. 

-E decidis-te isso porque…? 

-O Scott? O Dylan? 

-Pois… o Scott. Contei-te há bocado do trabalho com o Scott, e tu nem reclamas-te. Achei estranho, mas achei melhor estar calada! – Levantou as mãos em ‘modo defesa’. 

-Pois, trabalho… Acho que já te conheço um bocado melhor, D.! 

-Achas que me encontrava com ele se não fosse por um trabalho? 

-Trabalho de que? 

-Francês do nível III, sabes, aquele a que tu chumbas-te! 

-Ok, essa foi baixa e pagas por ela mais logo! Aposto que hoje demoras-te mais de 5 minutos a arranjar-te, e de certeza que não foi para a porcaria do francês! 

-Hei, tu é que és a Miss. Não Ouvi o Despertado Tocar!

-Eu não oiço, ok? A culpa não é minha...

Ela era óptima a desviar o assunto, mas desta não se livrava! 

-Vá lá, conta! – Estava a desesperar! 

-Não há nada para contar, se não te importares, podemos ir comer? 

-És uma chata, sabias? 

-Ya, é por isso que me adoras! 

Ela fez um daqueles sorrisos fofinhos, e eu não pude chatear-me mais. Depois logo lhe ligava para ver se a conversa dava frutos. 

-Por falar em rapazes, qual foi a tua e a do Loirinho? 

-Loirinho? D., andas outra vez a abusar do álcool? 

-Desculpa? Vais dizer que foste a única que não viste o fio que vos unia? 

-Ah, sim? 

-Ya! Mas enfim, tens de admitir que ele é um pãozinho! 

Ela mordiscou o lábio de maneira provocadora. 

- Ai e o Scottzinho? Aquele cabelo preto, a cair-lhe sobre a pele morena e a esconder aqueles olhos verdes! – Mordisquei o lábio também. 

-Pois, é isso, estamos bem entregues! 

- Sempre!

Começámos as duas a rir que nem umas loucas, como era habitual acabarem as nossas conversas.

domingo, 18 de março de 2012

Capitulo II



-Eles conseguiam invocar os 4 elementos: terra, fogo, água, ar. Foram as primeiras almas, humanos, guardiões, como lhes quiserem chamar, a povoar a terra por isso seria de pensar que seriam puros, mas na verdade não eram muito diferentes de nós. Cobiçaram os puderes da Deusa da sabedoria. A Deusa era o quinto elemento, o mais poderoso de todos e ninguém tinha esse poder.


-Então, para castigo dos primeiros mil humanos, a deusa separou-os. Uma cabeça para cada lado, 2 braços e 2 pernas para cada cabeça. Não lhes tirou os puderes como seria esperado, porque a deusa sabia que o que se era dado nunca deveria ser tirado. Foi ai que surgiu o conceito de espelhos que são mais ou menos como almas gémeas. Consta que a deusa gravou num espelho a frase "A quem tudo foi dado, nada deverá ser tirado, mas apenas quando completo devera ser usado" o que significa que os primeiros mil guardiões só puderam usar os seus puderes quando encontraram a sua alma gémea. 

-Claro que os guardiãs não eram imortais, mas as suas almas separadas eram, e, encarnavam, sempre unidas à distância. A deusa elegeu também o homem mais puro que conhecia e concebeu-lhe a imortalidade, para que ele pudesse guiar as almas de volta uma para a outra. 

-Assim, o mestre conseguia localizar uma das almas. A alma encontrada era o espelho, e a perdida era o reflexo. Quando o espelho atingia os 15 anos era-lhe revelado a deusa, e aí, seria-lhe revelado o seu reflexo. 

- O reflexo não pode invocar os poderes sem o seu espelho, ou seja, está dependente do seu espelho. Já o contrário não acontece. 

- A partir do momento de reencontro, espelho e reflexo deveriam treinar juntos, pois certa vez a Deusa terá afirmado "Uma vez unido o que foi separado, algo em vós ficará para sempre marcado", ou seja, as almas estão destinadas desde sempre a fazer algo que marque a humanidade ou a história, ou alguma coisa assim. 

De repente tudo caiu num silêncio estranho. 

Pelos vistos, ele tinha acabado. Pelo menos eu já não estava sobre o peso dos seus olhos, já não estava presa à sua história, pelo menos, ele já não falava para mim. Consegui de novo respirar, e quando dei por isso, o bater do meu coração seria provavelmente o som mais audível da sala. 

A sala ainda não tinha acordado daquele hipnotismo estranho para o qual Jeffrey nos tinha mandado. 

O professor Anderson simulou um pequeno tossicar para que voltasse-mos à realidade. 

-Faltou-me alguma coisa, Sr.Anderson? 

-Não, na verdade até está bastante completo! Só se esqueceu de referir que uma vez que as almas se encontrem novamente, já não voltarão a reencarnar, mas estou bastante admirado Sr.Stark. 

-Eu gosto de mitologia. - Esboçou o seu melhor sorriso de anjo para o Sr.Anderson. 

Graxista! 

-Bem...e agora que a menina Hall já sabe a parte que lhe faltava, - acompanhou as ultimas 4 palavras com umas aspas feitas no ar com os dedos - vamos continuar. 

E aí...desliguei.

sábado, 17 de março de 2012

Mitologia dos espelhos – Capitulo I





Estava muito entretida com a música do meu iPod quando algures atrás da barulheira do refrão oiço o meu nome. 


-Menina Chloe Hall, importa-se de me dizer a história que acabei de contar, mas resumidamente? 

Senti os olhos de toda a turma pousados em mim. Apressei-me a tirar o som ao iPod sem que ninguém desse por isso. Enfrentei os dois olhares que mais me perturbavam naquela sala: o do Sr. Anderson, o meu professor de mitologia e o de Jeffrey, o meu inimigo número um. 

-Desculpe professor, podia repeti-la? É que não apanhei bem uma parte e assim não sei como explicá-la... - disse eu num tom de voz muito inseguro, sabia que não ia pegar, mas dizem que a esperança é a ultima a morrer e tínhamos estudado na aula passada a caixa de Pandora. 

A Daisy estava a tentar chamar a minha atenção dando ligeiros pontapés no meu pé esquerdo enquanto eu me enterrava ainda mais na cadeira. A única coisa que me impedia de lhe mandar um olhar furioso era o facto de não poder desviar o olhar, isso seria dar-me por vencida, por isso ignorei-a. 

-Claro menina Hall, calculo que sim. Alguém pode dizer aqui a nossa sempre tão atenta e interessada aluna e colega do que se trata a mitologia dos espelhos? 

Senti as minhas faces a ficarem quentes e só me apeteceu esconder-me debaixo da minha secretária para que ninguém olhasse para mim (não que isso fosse muito discreto). 

Desejei com todas as minhas forças que fosse o braço de Daisy a levantar-se, mas se bem a conhecia não iria passar de um desejo.
Para pior dos meus pecados foi Jeffrey quem levantou o braço, com o seu cabelo loiro despenteado a cair-lhe rebeldemente sobre os olhos cor de musgo e os seus lábios carnudos cor de cereja a esboçarem um nada simpático sorriso. Os seus dedos acenavam-me como se me tivesse visto na praia. 

-Sim Jeffrey? 

-Eu posso resumir a história para a minha interessada colega. - O seu sorriso ampliou-se, algo triunfante. Quando o Sr. Anderson lhe fez um pequeno aceno de cabeça ele virou-se para mim na sua cadeira, visto que estava na primeira fila da sala e eu na última. Os seus olhos tinham um brilho rebelde que me prendiam a atenção sempre que olhava para eles. 

- Então, queres a versão resumida ou pormenorizada? 

-A pormenorizada. - Esbocei o meu melhor sorriso, se eu ia sofrer ao ouvi-lo ao menos que ele sofresse a falar. Podia ser que se enterrasse e se esquecesse de alguma coisa, oh sim, isto ia tornar-se divertido!

-Professor, por favor, corrija-me se eu disser algo errado... Há muito tempo atrás as pessoas tinham 4 pernas, 4 braços e 2 cabeças. - nesta altura da história já todos os rapazes o invejavam e todas as raparigas o queriam. Ele tinha algo, e sabia-o.

Empty words...

Palavras... para que servem? Muitas vezes estas 'palavras' deixam-nos nas piores situações... fazem com que o mais puro dos arrependimentos nos assombre, nos torture, nos impeça de dormir à noite... mas afinal, para que servem as palavras? Para nos meter em sarilhos? Para nos exprimirmos? Para nos envergonharmos? Para nos defendermos? Para mostrarmos ao mundo quem realmente somos? Para magoarmos as pessoas que amamos, pelo simples facto de não termos um manual de instruções que nos diga os momentos apropriados para dizermos algumas coisas? Na nossa vida, utilizamos muitas palavras sem sentido... palavras que nem deveriam ter sido proferidas, palavras que destroem, palavras sem razão de ser...mas acima de tudo, palavras VAZIAS!