"Diz sempre o que te vai na 'alma', por alguma razão tens uma..."

terça-feira, 20 de março de 2012

Capitulo IV



O resto das aulas foram o mesmo tédio de sempre...entre tentar escapar às perguntas dos professores, evitar os olhares nada simpáticos de Jeffrey e trocar papelinhos com Daisy, não fiz mais nada produtivo o resto do dia.

Estava a preparar-me para me sentar na paragem, para, mais uma vez esperar pelo autocarro, quando senti o telemóvel a vibrar dentro do bolso. 

-Estou, mano? 

-Oi, olha, preciso que me faças um graaaaaaaaande favor! 

-Oh não puto, nem penses que vou encobrir outra das tuas saídas nocturnas! Da última vez ia correndo mal! 

-Pois, mas não correu! Além disso não é nada disso que eu quero… Sabes, é que… 

-Desembucha! 

-Ok! Eu preciso de ficar na escola mais uma hora… será que podias dizer aos pais que eu tive…hum…sei lá, aula de substituição? 

-Quem é ela? 

-Porque é que tem de ser uma ela? 

-Porque eu te conheço! 

-Pronto...está bem, é isso. Agora, ajudas-me ou não? 

-Matemática, um bloco, a professora avisou na segunda aula da manhã, pode ser? 

-É isso maninha! 

-Estás a dever-me mais uma…aliás, amanhã quero ver quem ela é, e assim pagas a tua dívida, ok? 

-Está prometido, obrigado obrigado obrigado! 

-Pronto, está em, está bem, com tanto amor ainda choro! 

-Pois, tu lá no fundo até gostas! Até logo, mana! 

-Até logo! Juizinho, ‘tá? 

Nessa altura ele já tinha desligado o telemóvel. Estava curiosa de saber quem era a sortuda. Afinal o meu irmão até era giro, tinha o cabelo muito preto, como toda a minha família. A pele dele era cor de pêssego como a minha e a da minha mãe, e os nossos olhos, tanto os dele como os meus, eram verdes, nisso tínhamos saído ao meu pai. 

Desde pequenos que nos diziam que éramos muito parecidos, mas nós achávamos que não, porque na verdade até nos dávamos bastante mal. Há um ano, quando ele foi para o sétimo e eu para o décimo, numa escola desconhecida, começámos a dar-nos bem. Precisámos um do outro para sobreviver em território desconhecido, onde só nos tínhamos um ao outro! 

Depois eu conheci a Daisy e ele lá arranjou os amigos dele. Mas desde aí que somos quase inseparáveis. 

O autocarro chegou, e todos nos levantámos na paragem. Era já quase por instinto. Tanta monotonia fazia-me mal, tinha mesmo de arranjar um carro! 

Como de habitual o autocarro estava a abarrotar com tanta gente, e o único lugar vago era ao lado de um rapaz…com cabelo loiro…atitude descontraída… 

Jeffrey! 

Ainda ponderei ficar de pé, mas estava quase morta por causa de educação física, e não ia dez minutos de autocarro em pé por causa dele! 

Não tive outro remédio se não sentar-me. 

Tentei parecer descontraída, para ele ver que não me incomodava, mas o resultado foi uma Chloe desajeitada quase a sentar-se onde não devia e um Jeffrey a disfarçar um sorriso, sem muito sucesso. 

-Calma, não é preciso ficares nervosa! – Ele esboçou um sorriso muito maroto, e encostou a cabeça ao vidro. 

-Eu não estou nervosa! – Aquele rapaz tirava-me do sério! 

-Nota-se! – Nesse momento ele olhou para a minha mão, que tremia. 

-Sabes muito bem que é do frio! Sabes que tenho sempre as mãos frias! 

-Aí sei? – Ele estava a provocar-me! Num movimento rápido, pegou nas minhas mãos, para ver se eu estava a mentir quanto ao facto de estarem frias. – Por acaso estão! 

-Não me interessa se tu sabes ou não, ‘tá? – Aprecei-me a tirar as mãos das dele. - Aliás, a tua opinião não me interessa para nada. A única coisa que eu quero de ti é distância! 

-Será só mesmo isso que tu queres de mim? – Ele inclinou-se para mim e aproximou a sua cara demasiado da minha. Estávamos tão perto que conseguia ouvir a sua respiração. 

Comecei literalmente a entrar em pânico, e quando ouvi o gravador do autocarro a anunciar a próxima paragem, saí disparada, sem verificar se me faltava alguma coisa. 

Só quando já estava fora do autocarro e senti os ossos a gelarem-me é que me apercebi que me tinha esquecido do casaco. E que tinha saído na paragem errada! Realmente aquele Jeffrey dava-me a volta à cabeça! 

Agora era só andar uns vinte minutos a pé, num frio de rachar, com uma pequenina esperança de sobreviver sem ser assaltada ou assim, porque com o nevoeiro, não se via um palmo à frente do nariz! 

Comecei a andar, muito contrariada...mas que remédio é que eu tinha? Era o que eu merecia por não me conseguir controlar ao pé daquele chato! Ouvi passos atrás de mim... Será que estava a ser seguida? Estava literalmente aterrorizada! 

De repente senti uma mão a poisar no meu ombro. 

Virei-me e dei uma joelhada em quem quer que fosse, depois desatei numa correria louca, até que a pessoa me agarrou pela cintura. 

Estava no meio do nevoeiro, a quinze minutos de casa, com um terror cego a atrapalhar-me o raciocínio. 

Escorregámos e quem quer que me tivesse segurado caio em cima de mim. Comecei aos murros e pontapés, até que consegui ficar por cima do desconhecido! 

Depois ouvi uma gargalhada familiar. 

Agora que já tinha o controlo da situação, já que estava literalmente sentada em cima do agressor, comecei a raciocinar bem. 

Olhei para ele. Ele. 

-Jeffrey! Queres matar-me? 

Ele explodiu numas gargalhadas loucas, enquanto se contorcia de dores. Depois conseguiu recuperar o fôlego. 

-Para uma rapariga, dás luta! Já agora, esqueceste-te do teu casaco. 

-Deusa! Tu és doido? E avisares, não? Ah, e obrigada. – Agarrei no casaco. 

-Não vás, fofa. Podes ficar aí mais um bocadinho! Agora que isto estava interessante! – Ele ainda se estava a rir, o que me deixou furiosa, e provavelmente corada também. 

-Interessante? Só se for para ti, porque eu não estou a ver o interesse! 

-Queres mesmo que eu te explique? – Depois olhou para nós. 

Ele estava deitado de costas, meio levantado, apoiado nos cotovelos. Eu estava sentada em cima da cintura dele, com uma perna de cada lado do seu corpo, e meio ofegante, e provavelmente ‘não apresentável’. 

Ele deve ter visto a minha cara de quem não queria estar ali, e começou a rir novamente, mas agora de forma mais calma, até que se sentou ele também, de modo a que as nossas caras ficassem a menos de um palmo de distância. 

-Já percebes-te o interesse da questão? 

-Pois, temos conceitos diferentes do que é interessante. – Preparava-me para sair de cima dele quando ele me agarrou pela cintura, impedindo-me de sair do seu colo. 

-Tens horas certas para chegar a casa? 

-E se tiver? 

-Se tiveres, a menina perfeita que não faz nada de mal, vai infringir as regras! 

-Ok, e vou infringir as regras porquê? 

-Porque te quero mostrar uma coisa… Alinhas? – Ele estava com um sorriso maroto e de sobrolho levantado. Dali não podia vir coisa boa. 

-Não pode demorar muito tempo, prometi uma coisa ao meu irmão, tenho de o safar. 

-Ok chefinha, só lhe roubo dez minutos! – Piscou-me rapidamente o olho, depois olhou para mim durante um tempo que me pareceu infinito, e logo de seguida levantou-se bruscamente, e estendeu-me a mão para que me levantasse também. 

Continuou a agarrar na minha mão, enquanto me puxava para o meio da floresta que havia na margem esquerda da estrada. 

-Estás doido certo? 

-Relaxa princesa, eu sei o que faço! 

Depois de saltar-mos uns troncos, escalar-mos umas rochas e afastar-mos umas folhas chegámos a um ribeiro. 

-Uou! – Eu estava encantada. Ok, ele tinha conseguido surpreender-me! 

-Gostas? – Os olhos dele eram de espanto e felicidade. Aposto que ele gostava tanto daquilo como eu tinha gostado. Além disso também parecia feliz por concordar-mos nalguma coisa. 

-Não. – Ele ficou chocado. – Adoro! 

-Que susto rapariga! – Disse estas palavras acompanhadas por um sorriso simpático, o que era estranho, visto que estávamos a falar do Jeffrey. 

Tudo ali era lindo. As árvores só deixavam chegar alguma luminosidade, o que dava um ar sinistro à floresta, que apesar de não ser muito densa, e continuar a conseguir-se ouvir os carros a passar na estrada, era mágica. E o facto de ter sido o Jeffrey a mostrar-ma, tornava-a especial. Era como se este seu comportamento simpático significasse tréguas. Finalmente podíamos começar a dar-nos bem... sinceramente, já estava um bocado farta de andar sempre a embirrar com ele...




3 comentários:

  1. Amei, está bue fofo *.*
    Continuem a escrever, tem muito jeito.
    (Evelyn :P)penso que ja sabem quem escreveu, se nao souberem eu amanha falo com voçes, nao se preocupem :D

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  2. Bem espero que ainda hoje ponhas mais um capitulo :D

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  3. OMG, está perfeito, lindo lindo lindo! ponham mais :D

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