"Diz sempre o que te vai na 'alma', por alguma razão tens uma..."

terça-feira, 20 de março de 2012

Capitulo V


Eu continuava encantada com aquela paisagem maravilhosa…quer dizer... como é que alguém poderia não gostar daquele cenário? Aquilo preenchia-me a alma, fazia com que todos os pedaços soltos, frios e sombrios do meu passado, desaparecessem, como por magia. Aquilo fazia-me, verdadeiramente, acreditar em Deus. Afinal, quem é que poderia fazer tamanha beleza, num sítio em que todos os outros consideravam sombrio e frio? Aí percebi o verdadeiro significado daquilo que o professor de mitologia, estava sempre a dizer… “A verdadeira beleza não está na superfície e na primeira impressão, mas sim nas profundezas mais escuras do ser, depois de conhecido e estudado”, disse ele. Agora sim, eu percebia… quer dizer, eu nunca pensaria em entrar ali, se Jeffrey não me tivesse obrigado, para mim a floresta era só um lugar frio e cheio de bichos nojentos…mas se nós em vez de julgar, primeiro conhecêssemos, explorasse-mos e descobríssemos a verdadeira alma… Se calhar, tudo seria diferente… Quem é que iria pensar que uma das 7 maravilhas do mundo, estava mesmo ali, debaixo dos nossos narizes, e nós devido ao nosso preconceito e julgamento, deixámos que aquela paisagem permanece-se na ignorância. 

Estava eu, a pensar com os meus botões, quando Jeffrey decidiu começar a tagarelar… 

-Não é incrível? Já pensaste em todos as outras coisas de tirar a respiração, mesmo ao nosso lado, que permanecem escondidas, por causa da nossa estupidez? 

Olhei para ele, a tentar descodificar, através do seu olhar, se ele me tinha simplesmente lido os pensamentos ou se por acaso eu tinha estado a falar em voz alta, durante todo aquele raciocínio… 

Mas nos olhos dele, eu só detectei um brilho de maravilhamento e entusiasmo… os olhos dele…tão verdes… a Daisy tinha razão, aquele gajo era um pão. Eu já o sabia só não o queria admitir, porque supostamente nós os dois nutríamos um sentimento de ódio um pelo outro que era mútuo...

-Ora, ora… eu compreendo-te… eu sou muito mais interessante que a paisagem… - disse ele, provavelmente por que me apanhou a contempla-lo e a babar-me. Deusa, que vergonha!!! 

-Não faço a mais pálida ideia do que estás a falar, mas também, eu nunca percebo o que tu dizes, por isso… Mas diga-me lá, senhor doutor, como é que encontrou este lugar? 

- Digamos que eu adoro lugares como este, não te fascina? O desconhecido, a aventura, a adrenalina de nunca sabermos o que nos espera? Eu adoro explorar o desconhecido, de alguma maneira, faz-me sentir independente, sem regras, sem prisões, completamente livre! Quando venho para aqui sinto que tudo é possível. Não há nada que te faça sentir a assim? 

Por momentos, fiquei indecisa se haveria de responder ou não. Ele se calhar estava só a brincar comigo, à espera que eu caísse, para que ele depois pudesse gozar comigo e a nossa relação voltasse à típica discussão de sempre. 

-Sim…- respondi a medo, eu queria testá-lo, ver a reacção dele, perceber se ele estava simplesmente a gozar comigo, mas os olhos dele só mostravam um interesse enorme nas minhas palavras e decidi continuar. -A água…quando estou na água sinto que nada me pode parar, é como se a sua pureza limpasse todas as coisas desnecessárias e horríveis na minha vida. Não sei, só sei que ela me tranquiliza e faz-me pensar com clareza. Eu sei, é estúpido… 

Baixei a cara, a pensar porque raio é que disse aquilo, sou tão parva…agora ele pensava que para além de esquisita eu também era maluca. Tentei mentalizar-me que não me importava nada com o que ele pensava, mas era mentira. Eu importava-me. Importava-me e muito. 

Ele pegou-me no queixo e olhou-me nos olhos. 

-Não, não é estúpido. Na verdade eu compreendo muito bem o que tu sentes. Acredita, é normal tu sentires-te assim. 

-Assim como? – perguntei. 

-Assim… nervosa…quando estás ao pé de mim.- ele estava a andar na minha direcção e eu só conseguia dar passos inseguros para trás. Eu realmente não percebia, não estávamos a falar da água? Mas por alminha de quem é que ele mudou de assunto? – Oh, vá lá, princesa. Admite, eu deixo-te nervosa. 

- E o que é que te leva a pensar assim? – subitamente as minhas contas embateram contra uma árvore e fiquei encurralada. Ele mostrou-me aquele seu sorriso maroto, ao ver que eu não podia continuar a fugir.

-Assim… Quando eu faço isto…- colocou as mãos na minha cintura e começou a subir. – Quando estou tão próximo que as nossas respirações quase que se misturam…- Pôs as mãos no meu pescoço e com os polegares começou a acarinhar-me a face. OH, DEUSA! Ele estava tão perto! Durante o seu discurso ele nunca parou de olhar para mim, aqueles olhos hipnotizavam-me. Eu queria tocar-lhe, queria que ele me beijasse, queria ganhar coragem e dizer-lhe o que sentia quando ele se aproximava assim. Mas não conseguia… 

De repente, ele aproximou a cara dos meus lábios e quando eu pensava que ia beijar aqueles lábios carnudos, ele desviou ligeiramente a cara e avançou para o meu pescoço. Começou a dar-me beijos leves e suaves no pescoço, as suas mãos voltaram à minha cintura. Eu estava no paraíso… sentia os seus lábios contra a minha pele, os nossos corpos tocavam-se ligeiramente, as mãos deles tocavam na minha pele nua… Espera aí… Pele nua? Subitamente percebi que ele tinha posto as mãos por dentro da minha camisola e continuava a subir. 

Afastei-me rápido dele, tão rápido que ele cambaleou para trás e por segundos ficou desorientado. 

-O que é que tu estás a fazer?! – perguntei indignada. Como é que eu não tinha percebido? Era óbvio, qual era o seu objectivo em levar-me para um lugar sem ninguém a quem socorrer num raio de 15km. – Eu devia ter percebido! Porque é que tu tens de estragar sempre tudo? Não te basta a minha companhia? Mas afinal, o que é que tu queres de mim? 

-O quê?! O que é que queres dizer? – Ele parecia desorientado, de repente arregalou os olhos e pareceu chocado. – Não…espera, não é nada do que tu estás a pensar! Eu só… 

-Tu só o quê? As outras raparigas da escola não estavam disponíveis hoje e eu era a única para te divertires? – Comecei a sentir os olhos a arderem. Oh não, isto era sinal de lágrimas. Eu recusava-me a chorar ao pé dele! Por isso, virei-me e comecei a correr. 

-Chloe! Chloe espera, por favor! Não era essa a minha intensão! – Ele gritava atrás de mim, mas eu não parei, eu só queria ir para casa. A minha visão estava turva por causa das lágrimas e tropecei uma e outra vez, mas não me importava, a única coisa que eu sabia é que tinha de sair dali. 

Uma Chloe muito ofegante, despenteada e com a maquilhagem toda esborratada, chegou a casa passados 5 minutos de correr sem parar. Pareceram-me os 5 minutos mais longos da minha vida. Eu corria, corria e nunca mais via a minha grande, amarela e acolhedora casa. 

Fui direita para o meu quarto. Eu só queria paz e sossego. Atirei-me para a cama e chorei contra a almofada. Chorei o que me pareceram horas e quando o meu pai me chamou para a mesa não fui. Já tinha ouvido falar muitas vezes na expressão “coração partido”, mas nunca a tinha percebido. Aos meus olhos, o coração não se podia partir e ter um desgosto de amor não podia doer assim tanto, não é? Oh, mas doía. Doía e muito. Era a dor mais aguda e desesperante de todas. Por momentos, pensei que não ia aguentar. Mas depois, o cansaço venceu a dor e adormeci.

3 comentários: